A formação médica e a parturição no Brasil:
desigualdades raciais e de gênero fecundas desde o útero, um relato de experiência
DOI:
https://doi.org/10.29184/anaisscfmc.v22023p5Palavras-chave:
Educação médica, Racismo Institucional, InterseccionalidadeResumo
Parte-se do princípio que o pensamento social brasileiro permeia a ação do estado e influencia a construção de políticas públicas. Assim, entende-se o quanto, na história da formação médica e arte obstétrica, a medicina impactou a condução política de um pensamento social que incluiu a hegemonia do poder médico, o branqueamento social e o racismo institucionalizado. O objetivo é inserir um debate étnico racial para estudantes de medicina, em uma faculdade privada, com construção de instrumental que permita a incorporação desses debates no contexto acadêmico e médico. Foi utilizado metodologia qualitativa por abranger um universo de significados, sob uma perspectiva histórico dialética. Dessa forma, a coleta de dados deu-se a partir de revisão bibliográfica, fonte de periódicos CAPES, identificando na história da formação médica brasileira as estratégias que permitiram o racismo estrutural encobrir-se na teoria social biologizante. Ainda, houve pesquisa quantitativa, com estudo de campo, em ambulatório de pré-natal, num recorte gênero – racial e estudo de variáveis como: idade, número de gestações, abortos, cor, raça e ISTs, em 2022. Os alunos extensionistas gozaram da participação no Curso de Capacitação “A questão racial no pensamento social brasileiro: as visões de Sylvio Romero, Nina Rodrigues, Oliveira Viana e Gilberto Freyre”. Foi confeccionado instrumental pedagógico, em formato audiovisual, com intenção de inserção na construção pedagógica, em possíveis componentes curriculares como: obstetrícia, humanidades médicas e saúde coletiva. Durante o desenvolvimento do projeto, houve reuniões para discussão e exploração de novos conceitos para fomentação da curiosidade e escrita teórica. Assim, foi construído aprendizado para além do conhecimento priorizado no curso médico e reflexões sobre a importância da inserção dessa pauta na literatura médica, com aplicabilidade cotidiana da prática médica e o reconhecimento da insufici- ência de reflexões desta temática e, com isso, ausência de habilidades dentro da educação médica. O projeto trouxe uma nova visão dos aspectos históricos e literários sobre a construção do pensamento racial brasileiro, oportunidade que auxiliou na compreensão da formação do racismo institucional. Ademais, foi realizada ação social, com roda de conversa sobre o tema: “Você sabia? Discriminação racial, racismo e Desigualdade racial não são sinônimos”, para adolescentes e familiares, com o intuito de trazer para este grupo conceitos fundamentais e explorar, através da medicina narrativa, o racismo sutil por trás das palavras, sendo conduzido pelos extensionistas. Consideramos assim, que o nosso projeto teve positivo impacto reflexivo e, possível contribuição para um formato inclusivo de educação médica, sensibilizando futuros assistentes médicos da saúde pública e futuros gestores da saúde. Assim, acreditamos ter alcançado resultados além da mudança de consciência, mas um exercício na dimensão prática. Conclui-se, então, presença do atravessamento das questões sexistas e racistas no contexto da formação médica brasileira. E, contudo, a necessidade de traçar estratégias para uma quebra de paradigma na educação médica, com inclusão destas mesmas questões, para que assim aconteça a representatividade negra no âmbito da saúde, com redução das diversas formas de violência ao qual esta população está submetida.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Ana Clara Figueiredo Branco Gonçalves, Karen Schumacker Brust Santos, Maria Fernanda Vitoria Pessanha Campos Azevedo, Mila Queiroga Ramos, Kathelyn Ferreira Cordeiro

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores do manuscrito submetido aos Anais da Semana Científica da Faculdade de Medicina de Campos, representados aqui pelo autor correspondente, concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem sem ônus financeiro aos Anais da Semana Científica da Faculdade de Medicina de Campos o direito de primeira publicação.
Simultaneamente o trabalho está licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite copiar e redistribuir os trabalhos por qualquer meio ou formato, e também para, tendo como base o seu conteúdo, reutilizar, transformar ou criar, com propósitos legais, até comerciais, desde que citada a fonte.
Os autores não receberão nenhuma retribuição material pelo manuscrito e a Faculdade de Medicina de Campos (FMC) irá disponibilizá-lo on-line no modo Open Access, mediante sistema próprio ou de outros bancos de dados.
Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nos Anais da Semana Científica da Faculdade de Medicina de Campos (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta publicação.
Os autores têm permissão e são estimulados a divulgar e distribuir seu trabalho online na versão final (posprint) publicada pelos Anais da Semana Científica da Faculdade de Medicina de Campos em diferentes fontes de informação (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer tempo posterior à primeira publicação do artigo.
A Faculdade de Medicina de Campos poderá efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com o intuito de manter o padrão culto da língua, contando com a anuência final dos autores.
As opiniões emitidas no manuscrito são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es).